plus

Edição do dia

Leia a edição completa grátis
Previsão do Tempo 30°
cotação atual R$


home
NOTÍCIAS PARÁ

Famílias querem doar órgãos, mas não há estrutura

Desacordado após cair de uma escada de um metro e meio, na tarde do último dia 4, o paraense Edilson José Rabelo Lisboa, 63, foi encaminhado a um hospital particular de Belém e diagnosticado com traumatismo craniano devido ao forte baque na cabeça. Na mad

Desacordado após cair de uma escada de um metro e meio, na tarde do último dia 4, o paraense Edilson José Rabelo Lisboa, 63, foi encaminhado a um hospital particular de Belém e diagnosticado com traumatismo craniano devido ao forte baque na cabeça. Na madrugada de domingo para segunda-feira (5), o idoso foi submetido a uma cirurgia e reagiu bem. Saiu do coma induzido e passou a respirar com a ajuda de aparelhos. Dois dias depois, porém, seu estado de saúde piorou consideravelmente: uma terceira tomografia apontou que ele havia sofrido uma hemorragia intracraniana. No sábado (10), por volta das 23h30, foi constatada oficialmente a morte cerebral de Edilson e, segundo a família, o hospital abriu o procedimento para a doação dos órgãos junto à Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos (CNCDO) da Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa). Mesmo em meio à dor da perda, neste momento iniciou a saga da família para tentar realizar o último desejo de Edilson: o nobre ato de doar órgãos.

Embora o cérebro tenha parado de funcionar, coração, rins, fígado e córneas continuavam funcionando. Mas a família não esperava se deparar com um processo tão dificultoso para realizar os procedimentos.

Segundo o empresário e um dos três filhos de Edilson, Maridilson Lisboa, 40, o primeiro impedimento foi ter conhecimento de que só poderiam ser doados os rins e as córneas de Edilson, já que o Estado só realiza transplantes desses dois órgãos. “Meu pai era kardecista e ele queria poder gerar vida a outras pessoas. A nossa indignação é pela incapacidade do Estado de receber doações e realizar transplantes de outros órgãos, como o coração e o fígado”, critica. Segundo ele, somente naquele momento a família tomou conhecimento de que o Governo não teria a capacidade de fazer o procedimento no próprio Pará nem mesmo de transportar Edilson para outro Estado, como São Paulo, onde a doação e o transplante de coração são feitos.

“O Pará tem excelentes médicos, mas o Governo não possui estrutura física nem logística para realizar os procedimentos. Isso impede muitas pessoas de receber transplante de órgãos aqui”, afirma Maridilson, ao explicar que, nesses casos, o doador de órgãos precisaria ser transportado para centrais de transplantes de outros Estados, já que no Pará não realiza.

Somente na segunda-feira (12), dois dias após o óbito, por meio da Central de Órgãos, Edilson foi encaminhado ao Hospital Ophir Loyola, onde foi submetido à retirada de córneas e rins.

EM MEIO A LUTO, PARENTES PASSAM POR ESPERA SOFRIDA

O procedimento foi iniciado às 12h30 e terminou às 18h30. Mas a burocracia para dar andamento ao processo de doação não parou por aí. Viúva de Edilson, a comerciante Maria de Belém da Luz Lisboa, de 63 anos, precisou ir à Seccional de São Brás formalizar um Boletim de Ocorrência para que, assim, o Centro de Perícias Científicas Renato Chaves pudesse ir buscar o corpo de Edilson para passar pela necrópsia que identificaria a causa da morte e justificaria a doação dos órgãos. De acordo com Maria, o corpo chegou ao CPC às 20h, contudo, o procedimento só foi realizado no dia seguinte.

“Tinha médico e o horário para fazer a necropsia era até as 22h. Mas eles disseram que não podiam fazer. Foi uma espera muito dolorosa”, lamentou a viúva. A necrópsia foi feita na manhã de terça-feira (13) e o corpo foi liberado pelo CPC somente às 11h30 de quarta-feira (14). Já desgastada, a família fez um velório por cerca de duas horas e, em seguida, Edilson foi enterrado.

“Houve negligência e falta de consideração. Vamos procurar os Ministérios Públicos federal e estadual para exigir que essa estrutura funcione no Estado”, pondera Maridilson, acrescentado que a família não vai buscar indenização, mas que não quer que outras famílias passem pela mesma situação. “O Estado tem como fazer. E o caso do meu pai serve de exemplo para mostrar a real situação de doação de órgãos no Pará”, reforça.

PROCESSOS

Por meio de nota, a Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos (CNCDO) da Sespa se manifestou sobre o assunto ao dizer que “a doação de órgãos é um procedimento complexo, que se realiza em várias etapas cumprindo exigências legais que determinam a segurança de todo o processo”. E disse ainda que a notificação à Central de Transplantes é compulsória em todos os casos, porém o diagnóstico de morte encefálica é de responsabilidade do hospital onde está o paciente, independente de doação de órgãos.

A nota diz ainda que, no caso do doador em questão, a notificação à Central de Transplantes ocorreu somente no dia 12 de junho e a cirurgia de remoção dos órgãos ocorreu no dia 13, finalizando esta etapa em tempo hábil. “Como a causa do óbito foi queda de escada, é obrigatório fazer o registro de um “BO”, pois a legislação exige a realização de necropsia, independente de qualquer situação (doadores de órgãos ou não)”.

Por fim, informou que o transplante de fígado está em fase de credenciamento junto ao Ministério da Saúde, aguardando os trâmites obrigatórios. “Esperamos que em breve também façamos o de coração.”

(Pryscila Soares/Diário do Pará)

VEM SEGUIR OS CANAIS DO DOL!

Seja sempre o primeiro a ficar bem informado, entre no nosso canal de notícias no WhatsApp e Telegram. Para mais informações sobre os canais do WhatsApp e seguir outros canais do DOL. Acesse: dol.com.br/n/828815.

Quer receber mais notícias como essa?

Cadastre seu email e comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Conteúdo Relacionado

0 Comentário(s)

plus

Mais em Notícias Pará

Leia mais notícias de Notícias Pará. Clique aqui!

Últimas Notícias