“Vivemos uma era em que as pessoas delegaram para os dedos à função de falar e ainda tornou virtual as relações que são fundamentais para a formação humana”, alerta a médica pediátrica Aurimery Chermont, ao comentar sobre o quanto a população está cada vez mais ligada ou dependente de tecnologias presentes em smartphones, tablets e computadores. Que estes aparelhos têm facilitado a comunicação do dia a dia de todos ninguém duvida. Mas a utilização deles precisa ser feita de forma responsável, principalmente por crianças e adolescentes.
Recentemente, a Sociedade Brasileira de Pediatria publicou a segunda cartilha com uma série de cuidados que os pais devem tomar para garantir a saúde física e emocional, quanto ao uso destes instrumentos, em especial o celular. É preciso, por exemplo, limitar o tempo em que a garotada fica diante da tela e a distância em que ela fica dos olhos.
Os movimentos repetitivos de mãos e dedos na hora de usar o aparelho pode resultar em problemas sérios – em alguns deles é preciso até de fisioterapia, no caso de uma tendinite.
No entanto, para a especialista, o que mais preocupa não são os danos físicos, que podem ser tratados, e sim os danos emocionais e psicológicos que podem ser descobertos tardes demais. “Aí entra um cuidado que envolve toda a família e não somente a criança ou adolescente. Eu vejo entrar no meu consultório pais e filhos que não largam o celular durante a consulta. Eles sequer olham nos olhos um do outro”, contou.
A pediatra pontua que a boa conversa, a manutenção de uma conversa olho no olho, na qual prevalece um diálogo de respeito e de valores, vai ajudar na formação do caráter da criança. Torná-la uma pessoa mais sensível ao mundo ao seu redor. “Hoje, os pais, responsáveis, não conversam direito com os filhos. Permitem a participação deles em redes sociais muito cedo e não fiscalizam o que eles fazem no mundo virtual”, alertou. “Tem criança com 10, 12 anos que não têm a figura dos pais em seu convívio. Elas têm apenas amigos virtuais e ali tem um universo que nem sempre é o mundo delas”, disse.
PERIGOS
“Na hora do almoço, quando a família poderia aproveitar que estão todos à mesa e conversar entre eles, isso não acontece. Fica o prato sobre a mesa, a cabeça baixa com os olhos e as mãos no celular. A conversa é toda por lá, com pessoas de fora da casa”, analisa a pediatra. “E nisso a criança pode estar tendo contato com um pedófilo. Pode estar tendo contato com traficantes, sendo assediada. A gente não sabe! Precisa ter uma fiscalização”, atentou.
Ela não critica o fato de crianças, desde cedo, estarem conectadas ao mundo virtual, mas frisa que há limites. “A criança e o adolescente precisam saber que eles têm hora para dormir, comer e estudar. Precisam de uma rotina dentro de casa com tarefas domésticas que vão auxiliar na criação de responsabilidades”.
A presença de crianças e adolescentes em redes sociais precisa ser acompanhada dos responsáveis. Isto porque o ambiente virtual geralmente funciona como uma realidade fantasiosa. “Vai ter criança que vai postar algo diferente para ser aceita num grupo do qual ela não deveria estar”, finalizou a pediatra, ao lembrar que tem crescido o número de pacientes juvenis com um quadro de ansiedade e dependente de medicamentos antidepressivos.
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