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SAÚDE

O trabalho na saúde em tempos de Covid-19

A sonoridade das palmas que ecoa nas janelas ao cair de cada dia chega até a enfermeira Mirielly Santos, 40, como a dose extra da energia necessária para enfrentar o que já é apontado como um dos maiores desafios em saúde a nível mundial. Assim que chega

Imagem ilustrativa da notícia O trabalho na saúde em tempos de Covid-19 camera Para a população o que eu tenho a dizer é que vai dar tudo certo, principalmente se todos colaborarem e ficarem em casa. O momento é de pensar no próximo enquanto pessoa mesmo”, Mirielly Santos, Enfermeira | Olga Leiria

A sonoridade das palmas que ecoa nas janelas ao cair de cada dia chega até a enfermeira Mirielly Santos, 40, como a dose extra da energia necessária para enfrentar o que já é apontado como um dos maiores desafios em saúde a nível mundial. Assim que chega ao hospital público federal em que trabalha, uma das primeiras medidas está em se informar se já há algum caso confirmado de Covid-19 no local.

Mesmo diante da negativa, até o momento, a rotina já preocupada com a aplicação de técnicas de higiene e cuidados segue em ritmo acelerado. Em diferentes hospitais de Belém, são profissionais de saúde como Mirielly os responsáveis por assumir o papel de cuidar do próximo.

Trabalhadores dizem que não podem parar em meio a pandemia

Natural do município de Imperatriz, no Maranhão, Mirielly mudou-se para Belém após a aprovação no concurso público que lhe permitiu exercer a profissão com a qual sonhou. Antes de se graduar enfermeira, concluiu o curso de pedagogia e, em seguida, se qualificou e atuou por um período como técnica de enfermagem.

Hoje, na profissão escolhida, ela sabe dos riscos de se estar na linha de frente do atendimento aos pacientes, mas a preocupação maior é com os que ela deixa em casa. “Eu fico muito preocupada com quem eu deixei lá no Maranhão, mãe, irmãos, sobrinhos”, conta a enfermeira. “E preocupada também com o meu filho, que mora comigo”.

Ainda que nenhum caso de Covid-19 tenha sido registrado no hospital em que trabalha, a relação de Mirielly com o filho Gustavo, 13, já precisou ser temporariamente readequada, para o próprio bem dele, a mãe faz questão de destacar. Como a casa em que os dois moram tem dois andares, o filho tem permanecido no segundo andar, enquanto a mãe se resguarda no térreo.

“A gente sabe que está na linha de frente do atendimento, então, tem que triplicar o cuidado. O medo de levar o vírus para casa não deixa de mexer com o psicológico”, conta, ao relatar que o filho também teve as aulas suspensas e tem permanecido em casa. “Foi aniversário do meu filho dia 19 de março e é difícil não poder abraçar, beijar. A gente sofre um bocado, mas vamos seguindo na esperança de passarmos por tudo isso da melhor forma possível”.

Sem perder o foco da missão inerente à profissão, Mirielly conta que tem sido tranquilo enfrentar o desafio diante da mobilização adotada em seu local de trabalho. A enfermeira aponta que todos têm se unido para que consigam enfrentar esse momento com o menor grau de consequências negativas possível.

ASSISTÊNCIA

“O setor de psicologia se organizou para prestar assistência a todos os profissionais, os cuidados com a lavagem das mãos e uso dos EPIs (equipamentos de proteção individual) foram triplicados, então todo mundo está se mobilizando para que possamos prestar a melhor assistência com a melhor qualidade”, conta. “A ideia é se organizar antes que a situação ocorra para que a gente possa atuar da melhor forma possível”.

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Sobre as homenagens prestadas por muitos brasileiros que podem se manter reclusos em casa diante da pandemia, a enfermeira aponta que também é um incentivo a mais. “Agradecemos todo esse reconhecimento que é muito importante, mas queria, também, que esse momento servisse para as autoridades do país reconhecessem o quanto é importante a atuação dos profissionais de saúde”, considera.

“Para a população o que eu tenho a dizer é que vai dar tudo certo, principalmente se todos colaborarem e ficarem em casa. O momento é de pensar no próximo enquanto pessoa mesmo”.

A forma da técnica de enfermagem Jocineuma Colares de Souza, 34, acompanhar as homenagens da população é através dos vídeos que circulam na internet. Diariamente, a sua rotina inclui o cuidado próximo com os pacientes idosos que chegam até o hospital particular em que trabalha. “Quando a gente escolhe essa profissão, já sabe que vai precisar ficar exposto, então, com essa situação do coronavírus fica uma tensão”, conta. “A gente fica preocupado, mas o hospital onde trabalho vem dando suporte para a gente, estamos adotando todas as medidas e usando os EPIs adequados”.

Jocineuma Colares de Souza
📷 Jocineuma Colares de Souza |Arquivo Pessoal

ATENÇÃO

Até o momento, nenhum caso de Covid-19 foi registrado no hospital em que Jocineuma trabalha. Ainda assim, além do cuidado com os próprios pacientes, ela relata que redobrou a atenção em casa. “A gente sabe que é um risco porque estamos na linha de frente, então fica aquela tensão de ser contaminado e levar o vírus para casa. Eu tenho um filho e marido”.

Para amenizar o risco, a técnica explica que no seu local de trabalho há um vestiário destinado para que os funcionários troquem a roupa utilizada no trabalho antes de encerrarem o expediente. Ainda assim, quando ela chega em casa, evita ter contato com os familiares antes de conseguir retirar a roupa da rua e tomar um banho. “Eu não toco em nada e nem em ninguém, passo direto para tomar um banho e, aí sim, sigo a vida em casa”.

Familiares

Os familiares também são a principal preocupação da enfermeira Surama Abbade, 40. Apesar de não atuar no contato direto com os pacientes, já que ocupa o cargo de enfermeira auditora em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), ela precisou redobrar os cuidados e adotar algumas mudanças para diminuir ao máximo o risco de contágio. “Voltar para casa virou uma rotina preocupante para os profissionais da área da saúde, já que precisamos resguardar nossos familiares”, considera. “Moro com meus pais que se enquadram no grupo de risco do coronavírus”.

Equipamentos de proteção individuais

Imprescindíveis na luta contra os efeitos do novo coronavírus, os profissionais médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem precisam estar atentos à própria saúde. Por isso, a recomendação das entidades médicas é para que os profissionais de saúde não abram mão dos equipamentos de proteção individual durante a sua atuação.

Diretor de comunicação do Sindicato dos Médicos do Pará (Sindmepa), Wilson Machado aponta que, sob todos os aspectos, o cenário enfrentado hoje com a pandemia do coronavírus aumenta a tensão na atuação dos profissionais de saúde, já que existe o risco real de contaminação.

“A recomendação do sindicato é para que não abram mão dos equipamentos de proteção individual e dos cuidados técnicos que se referem ao uso desses equipamentos, como máscaras especiais N95 ou similares, luvas, aventais, máscaras tipo visor para proteção do rosto inteiro, gorros”.

Wilson aponta que tais equipamentos estão prescritos como necessários para se minimizar os riscos de contaminação. “Estamos solicitando aos hospitais públicos e privados que disponibilizem esse material para todos os profissionais que atuam na saúde, desde o porteiro e o motorista da ambulância, até o enfermeiro e o médico”.

A valorização do profissional de saúde também é defendida pelo Conselho Regional de Enfermagem do Pará. A presidente do Coren-PA, Danielle Cruz Rocha diz que o conselho também tem atuado no sentido de tentar viabilizar recursos para a garantia dos equipamentos de proteção individual aos profissionais.

ATUAÇÃO

Danielle aponta que já se conseguiu identificar que em muitos casos de profissionais de enfermagem acometidos pelo novo coronavírus na China, a contaminação se deu no momento da retirada dos equipamentos de segurança, por isso, é necessária atuação adequada não apenas no momento de atender aos pacientes, mas também na hora de retirar materiais como luvas, máscaras, aventais.

A presidente do Coren-PA pede que a população também se conscientize da importância que esses equipamentos de proteção têm para os profissionais que estão na linha de frente do atendimento. “A situação de uma pandemia mexe com a cabeça das pessoas e temos visto gente estocando medicamentos, álcool em gel, máscaras, o que não ajuda em nada. As pessoas precisam ter consciência de que o que pode estragar na minha mão, pode estar fazendo falta nas mãos de outras pessoas”.

Preparação para atender a possíveis casos

Atuando em dois hospitais públicos de referência no Estado, o médico cirurgião do aparelho digestivo e hepatologista Rafael Garcia, 39 anos, é chefe do grupo de referência de doenças do fígado em um deles, portanto, atende muitos pacientes imunossuprimidos ou que passaram por transplantes. Diante da pandemia do novo coronavírus, o médico viu a rotina de estudos ser intensificada, aliada à atuação já intensa do trabalho.

Médico Rafael Garcia
📷 Médico Rafael Garcia |Arquivo Pessoal

“Estou lendo artigos todos os dias, participando de muitas reuniões porque, na eventualidade de algum paciente imunossuprimido contrair a doença, pode desenvolver um quadro grave”, avalia. “As demais atividades da rotina, nos consultórios e assistências aos pacientes, continuam. O cuidado biológico também”.

Preocupado com a saúde do filho de quatro anos e da esposa, que também é médica, Rafael conta que, ao chegar em casa, entra pela área da cozinha para que logo deixe a roupa que chegou da rua no tanque. O cuidado é redobrado. Além deles, a preocupação também é grande com os demais familiares. “Eu moro em Belém há 6 anos, sou paulista. O meu pai é médico em São Paulo em uma cidade que tem 8 mil habitantes. Ele é o único médico que vive na cidade, então ele está na linha de frente, apesar de ter 68 anos e sercardiopata”, conta.

“Eu fiz UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) por 12 anos, então, se precisar, eu vou estar lá de novo. Para o médico não tem muita saída. A preocupação é mais com quem está em volta mesmo”.

Na tentativa de sempre orientar quem está mais próximo, o médico ainda viu acrescida à rotina a necessidade de combater parte da avalanche de notícias falsas que acabam circulando por aplicativos de mensagens. “O que eu considero um dos aspectos mais complicados é ter que lidar com as fakes news”, avalia.

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