Os repasses de franquia tiveram crescimento de 1,1% no
primeiro semestre deste ano, de acordo com a ABF (Associação Brasileira de
Franchising). Ou seja, das 170 mil franquias do país, cerca de 18 mil foram
passadas para outros donos nesse período.
"O repasse é uma opção interessante para quem compra,
porque não tem que começar do zero, para quem vende, que não perde todo o seu
investimento, e para a marca, que evita fechar lojas", explica Sidnei
Amendoeira, diretor institucional da ABF.
A entidade ainda não tem os dados de julho e agosto
fechados, mas a tendência é de aumento nas vendas de lojas já em operação
também no segundo semestre.
Esse crescimento levou o empresário Leonardo Castelo,
diretor-executivo da 300 Franchising, a criar um braço na sua holding só para
repasses. A operação, iniciada neste mês, já tem uma base de 150 mil
investidores e cerca de 20 franquias para repasse.
"Nosso propósito é minimizar as perdas do franqueado ao
fazer o repasse da sua loja. Com uma base grande de investidores, nós
conseguimos juntar os interessados em comprar com aqueles que querem
vender", diz Castelo.
Conforme explica Bianca Santini, que é especialista no setor
e fundadora da plataforma de educação Sucesso Com Franquia, o repasse pode
ocorrer por vários motivos, entre eles falta de capital de giro e mudança de
cidade ou de área de atuação.
"Pode ser uma boa oportunidade para quem quer entrar em
um negócio, porque a venda não significa que a unidade não é uma boa
operação", afirma.
Entre as vantagens do repasse estão: redução no tempo de
implementação do ponto –uma unidade nova pode levar cerca de 90 dias–, base de
clientes ativa e investimento menor do que em uma loja que está começando do
zero.
Além disso, com a pandemia e sem lastro financeiro, vários
franqueados estão repassando unidades muitas vezes com valores menores do que o
de mercado.
Foi a vontade de mudar de área de atuação que levou a
franqueada Marcela Borges, 31, a vender sua unidade do Espetto Carioca em um
shopping no Rio de Janeiro.
"Desde o início do ano passado venho amadurecendo a
ideia do repasse e, em agosto, fechei o negócio", diz Marcela.
Ela conta que, quando começou a pensar na venda, a sua loja
estava avaliada em R$ 700 mil. "A pandemia causou grande impacto nos
negócios e consegui vender agora por R$ 450 mil", diz.
Bruno Gorodicht, diretor comercial do Espetto Carioca, diz
que a rede, que tem 29 unidades abertas, teve quatro repasses em sete anos de
atuação, apenas um deles durante a pandemia.
Fernando Pimentel Fiori, 54, que atuava no setor de
telecomunicações, encontrou a chance de ter um negócio próprio no repasse de
uma franquia da lavanderia 5àSec no Alto da Lapa, em São Paulo.
O investimento foi de R$ 700 mil, valor, segundo ele,
semelhante ao que teria pago se montasse a operação do início. "Só que
começar do zero seria um desafio muito maior. Já tenho uma carteira de clientes
e isso ajuda muito", diz.
Pimentel começou a operar em fevereiro deste ano e logo na
sequência veio a pandemia. "Tivemos que nos reinventar", diz.
Os carros-chefe da lavanderia, camisas e ternos, deram lugar
a tapetes e cortinas, e o delivery se tornou um grande diferencial.
Entre março e setembro deste ano, a 5àSéc contabilizou 13
repasses. No mesmo período do ano passado, foram 11 operações do tipo.
Comprar uma unidade já em funcionamento pode ser uma boa
oportunidade, mas requer cuidados. O primeiro ponto é fazer uma análise
criteriosa de todos os aspectos financeiros, contábeis e jurídicos da loja,
para evitar problemas futuros, como sucessão de dívidas.
Também é aconselhável conhecer o negócio e a região,
entender porque o franqueado está querendo sair da operação e consultar o
histórico do ponto. "Recomendo ficar pelo menos um mês dentro da loja para
saber se o que está sendo oferecido condiz com a realidade", diz Pimentel.
"Para a marca, é muito mais interessante que a unidade
seja repassada do que encerrada, assim ela evita passar uma imagem de
fragilidade", afirma Bianca Santini.
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