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Projeto de fotógrafo paraense exalta beleza feminina sem disfarces e padrões

Nas lentes do fotógrafo paranaense André Schiavone, as pessoas representadas ganham novas perspectivas. Elas passam a se enxergar e a aceitar seus corpos, com suas imperfeições e limites, mesmo que eles não correspondam aos padrões ditados pela sociedade.

Imagem ilustrativa da notícia Projeto de fotógrafo paraense exalta beleza feminina sem disfarces e padrões camera André Schiavone/Divulgação

Nas lentes do fotógrafo paranaense André Schiavone, as pessoas representadas ganham novas perspectivas. Elas passam a se enxergar e a aceitar seus corpos, com suas imperfeições e limites, mesmo que eles não correspondam aos padrões ditados pela sociedade. É o que propõe o projeto “Soulte-se”, um trocadilho com a palavra “soul”, alma em inglês, e uma analogia ao ato de “soltar-se”. Uma provocação a todos a gostar da própria imagem.

Paranaense de Maringá, depois de dez anos no Rio, André conta que está em Belém desde o mês de janeiro deste ano, trazido pelo amor. Ele também é músico e veio a Belém várias vezes com o grupo Nocabe (No Caminho do Bem), com um projeto educativo. “Na última temporada que vim, em 2018, me apaixonei. E aqui estou casado com esta mulher, que inclusive agregou muito ao projeto”, conta ele.

O fotógrafo diz que sentia a necessidade de fazer algo bom pelas pessoas e que ao mesmo tempo levasse a autorreflexão. “O projeto vem da junção da paixão pela fotografia com a vontade de fazer da minha arte algo válido e de conteúdo para a possível reflexão e evolução de outra pessoa e minha mesmo. Tive a oportunidade de fazer alguns ensaios por experimento e, assim, o projeto foi tomando forma e conteúdo durante alguns anos. Até que enfim consegui colocar tudo em prática”, conta.

Uma inquietude sobre o que as mulheres pensavam sobre si mesmas também o provocou a mostrar para elas que isso não pode ser uma verdade negativa. “Vivemos em uma sociedade com uma construção histórica em que muita mulher ainda vive em constante repressão, que ainda dá ouvidos a padrões machistas, a padrões de corpo, que deixam de ser elas para ser alguém para os outros. A partir disso, notei que poderia contribuir positivamente através da fotografia, conversando sobre a liberdade em ser quem é, em mostrar um prisma diferente de como elas estavam acostumadas a se ver, a trazer a força que existe em todas, mesmo que o dia a dia pudessem fazê-las desacreditar da sua existência. ‘Soulte-se’ nasce neste querer proporcionar algo a alguém”, reitera.

André Schiavone diz que a música e a fotografia se completam. “Os dois ofícios são parte de mim, amor à música, amor à fotografia. As duas são minhas formas de expressão e diálogo com o mundo, cada um à sua maneira. Tenho maior cuidado e respeito para que não se tornem trabalhos maçantes e obrigatórios.”, diz.

Em seus ensaios fotográficos, os retratados são pessoas comuns, que nas fotos surgem sensuais e plenas, sem estarem travestidas como um personagem. Todos os momentos são conduzidos de forma muito delicada para chegar aos cliques, diz o fotógrafo. “A maioria das pessoas fotografadas surgem a partir do ‘boca a boca’ e pelas redes sociais. No manejo da fotografia em si, eu diria que temos um cuidado pré-ensaio, em que a preocupação principal é buscar a mulher em sua essência”, ressalta.

Histórias incríveis em cada imagem

Para trabalhar de forma individualizada, André Schiavone busca entender antes quem é a pessoa em frente a sua câmera. “Cada ser é único e respeitamos muito a individualidade de cada pessoa. Para isso, trabalhamos com um questionário que nos direciona em relação a personalidade, gostos, medos que nos permite uma visão além do que os olhos podem ver. Pedimos também referências de fotos que gostem em relação a luz e ambiente para que, em comum acordo, possamos sugerir lugares e estilo do ensaio. Gostamos de criar um dia especial para a mulher em que ela possa deixar de lado um pouquinho sua função de mãe, esposa, funcionária e dar atenção a si mesma. Acabamos assim por criar momentos marcantes com direito a registros específicos de cada uma”, destaca o fotógrafo.

Segundo André a diferença de sua proposta a outros ensaios sensuais está no objetivo. “Acredito que o projeto se torna diferente por inverter as vias: não é a mulher para a foto, mas usar a fotografia em prol da mulher. Não é um sorriso para o clique, mas buscar um sorriso. Na verdade, vejo muito mais que um ensaio fotográfico, vejo como um mergulho de alma, como uma terapia, que proporciona reflexão, autoconhecimento, quebra de paradigmas”, observa.

PÓS-ENSAIO

Depois das fotos, as mulheres são convidadas para refletir sobre a sessão. “Uma das coisas que gostamos muito no pós-ensaio é sentar para ver as fotos e conversar sobre o que foi este dia. Os relatos são marcantes e em forma de agradecimento pela experiência vivida. Tem relatos de mulher que não se olhava no espelho há mais de sete anos, outra que estava para marcar cirurgia bariátrica e depois se viu com outros olhos, desistindo da cirurgia. Outra ainda escondeu suas lingeries na casa da mãe durante anos para não ser tachada de vagabunda em um relacionamento. Lembro que teve uma mulher que pediu para usar Photoshop em um sinal que ela tinha nas costas e depois, com o questionário, descobrimos que era uma cicatriz de um câncer que ela superou, mas não gostava de lembrar daquilo. Pudemos mostrar que aquela cicatriz era símbolo de alegria e não o contrário. Isso foi demais. Poder encontrá-la na outra semana com uma blusinha de costas nuas exibindo sua marca... enfim, são inúmeros os relatos, e todos gratificantes”, considera.

E todas essas histórias ajudam a construir novos e mais sentimentos s para o fotógrafo, conta Schiavone. “Certamente, as pessoas que mais me marcam são aquelas que entendem a real proposta do nosso projeto e se permitem a novidade, o desafio, a entrega. Um exemplo disso foi o ensaio de Ana Paiva, uma cadeirante que conheci em Lisboa (Portugal), que mesmo com todas as suas limitações motoras, ela se jogou: colocou lingerie, sorriu, mostrou que tem tanta coisa além do que vemos e damos importância... diria que é muito emocionante”, enaltece.

As fotos citadas por André foram feitas em Lisboa, quando ele viajou pela Europa com o projeto Nocabe, em uma turnê que durou um período de três meses. “Ela conheceu o projeto por uma amiga dela que tinha feito aqui no Brasil e quando soube que eu ia para lá, ficou em contato comigo e perguntou ‘será que eu posso fazer?’ Na hora, eu falei, ‘por favor, vamos fazer’, e fizemos um ensaio lindão”, recorda.

Aos 42 anos, a psicóloga social Ana Paiva, que vive em Lisboa, é solteira e não tem filhos, diz que ficou impressionada com o questionário proposto para capturar a essência das mulheres que participam do projeto. “O questionário está muito bem construído. Quando recebi o feedback do André foi quase um choque, porque ele disse coisas sobre mim que pessoas próximas não sabem ou não têm noção. Foi um choque, mas foi também interessante participar dessa experiência”, conta.

Com dificuldade de fala, Ana diz no making off do ensaio no Instagram o quanto o projeto a deixou livre e acolhida. “Eu sou a primeira portuguesa a fazer o ensaio (risos) e acho que a primeira cadeirante. O conceito [do Projeto] vai muito ao encontro do que eu acredito. A mulher não é objeto, não tem que ser uma peça de vitrine. Limitei-me a ser eu. Eu não sabia que eu era tão sensual assim. O André tem uma sensibilidade, ele não é uma pessoa comum”, diz ela, emocionada.

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